Setor do agro alerta para risco nas colheitas e incentiva diálogo do governo com os EUA

O agronegócio brasileiro vive momentos de ansiedade. Em um cenário de mercados interligados e cadeias logísticas planejadas com muita antecedência, uma mudança tão brusca nas tarifas de exportação pode significar não só prejuízos financeiros, mas efeitos devastadores para produtores, trabalhadores e comunidades inteiras ligadas ao campo. O temor maior está na incerteza: até quando será possível sustentar exportações se a nova tarifa dos EUA entrar em vigor? Empresários e associações setoriais apostam no diálogo e acreditam que o governo pode reverter a medida, mas correm contra o tempo para evitar perdas na safra e desemprego em massa.
Produtores pressionados e pedidos urgentes
Na última terça-feira, produtores de diferentes setores se reuniram com membros do governo federal em Brasília, trazendo relatos preocupantes e números expressivos ligados ao risco do tarifaço. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, comandou as conversas ao lado de Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária). As associações, reunindo desde exportadores de carnes a representantes da fruticultura, encontraram espaço para pedir que alimentos brasileiros fiquem fora da cobrança extra.
Setores ligados à exportação de carne foram dos mais incisivos. Segundo Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), a nova tarifa dos EUA pode simplesmente inviabilizar qualquer remessa de carne bovina para o mercado americano. Não se trata de projeção futura: frigoríficos já estão reduzindo produção e há cerca de 30 mil toneladas entre portos e navios aguardando instruções. O apelo do setor foi claro: é preciso negociar um adiamento ou, idealmente, revertê-la, pois a carne brasileira já chega ao destino pagando tributos elevados, acima de 36%.
Frutas, laranja e café: segmentos mais afetados
O impacto do tarifaço não para nas carnes. Os exportadores de frutas, especialmente manga, vivem um drama particular. Guilherme Coelho, da Abrafrutas, contou como produtores vivem uma corrida contra o relógio após meses de planejamento e contratos já em andamento. Só de mangas embarcadas para os EUA, já são 2,5 mil contêineres — um volume incompatível com o redirecionamento para outros mercados tão em cima da hora. Trazer toda essa fruta de volta ao Brasil seria um desastre, saturando a oferta e derrubando o preço local, com o risco real de deixarem parte da produção apodrecer no pé.
Outro símbolo do agronegócio nacional, a laranja, também sente a pressão. Para a Associação dos Exportadores de Sucos Cítricos, a dependência do mercado americano é enorme — os Estados Unidos compram cerca de 70% de todo o suco brasileiro importado. O pedido do setor foi por calma e estratégia nas negociações, na esperança de que consenso seja possível antes que a reversão fique inviável.
O café, por sua vez, reforça como a relação comercial Brasil-EUA é vital: um terço do café consumido pelo gigante norte-americano tem selo verde-amarelo. O presidente do Cecafé, Marcio Ferreira, destacou o apelo único do nosso café para o consumidor americano, apostando que um acordo será benéfico para ambos os países, sem vencedores nem vencidos.
Uma negociação que vale ouro para o Brasil
A mobilização das entidades do agronegócio e o esforço conjunto de autoridades brasileiras traduzem o entendimento de que as consequências vão muito além do lucro. O setor agrícola é um dos grandes motores da economia nacional e gera milhões de empregos diretos e indiretos. Se o impasse com os EUA não tiver uma solução, toda a estrutura sofisticada de exportação — que inclui planejamento de safras, logística marítima e acordos comerciais — fica comprometida.
Além da preocupação econômica, o episódio serve para acender o alerta sobre a importância de políticas de diversificação de destinos e de diálogo constante em experiências de comércio internacional. Quando decisões políticas afetam cadeias globais, os efeitos começam no campo e chegam à mesa de milhões de pessoas, inclusive no Brasil.
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Fonte: Agência Brasil